sábado, 27 de setembro de 2014

Marie-Anne e seu retrato com Lavoisier

Oi pessoal!






Semestre passado fiz a disciplina de História da Arte Moderna, onde estudamos um pouco do Neoclassicismo. Um dos trabalhos da disciplina era fazer uma resenha crítica de um dos textos da matéria ou então fazer uma análise de obra de um dos quadros vistos em aula. Como eu odeio fazer resenha crítica, resolvi fazer a análise.


O foda é que eu não tinha quase nenhum texto, mas por muita sorte eu tinha uma xérox de um dos materiais que falava um pouco sobre um dos quadros mais lindos que foram vistos em sala. O retrato de Lavoisier e sua esposa de Jacques-Louis David (1788) foi escolhido por ser simplesmente maravilhoso. A primeira vez que vi essa pintura foi num livro de História do ensino fundamental, sexta série se não me engano.


Acabei estudando a respeito do quadro e da Marie Anne Pierrete Paulze, a esposa do Lavoisier. Pra quem não sabe, o Lavoisier foi um cientista considerado o pai da química moderna. O cientista veio de uma família com muitos bens e estudou química, matemática, astronomia e botânica. Ele era membro do Ferme Général, sistema de taxação de impostos que era totalmente impopular principalmente entre o povo. Só que ele era uma pessoa considerada decente e que investia tempo e dinheiro na erradicação da malária em suas propriedades.





                Em 1771, Lavoisier se casou com Marie-Anne, uma química e aristocrata que foi colocada num convento aos 13 anos por conta da morte de sua mãe. no convento ela era incentivada a estudar, passando então a ter interesse pelas atividades do esposo. ela começou a estudar Química, assim participou nos trabalhos e pesquisas do marido. Ela traduziu para o francês os textos dele que inicialmente eram escritos em latim e em inglês. Também trabalhou como ilustradora dos textos mais importantes de Lavousier e para aperfeiçoar suas técnicas, teve aulas de desenho com David.


Marie-Anne encomendou um retrato duplo dela e do esposo no escritório da família, onde ela olha de frente o espectador enquanto seu esposo a observa. Ela repousa o braço sobre o ombro do marido com a mão direita inclinando sobre a mesa num gesto informal e natural. Ela veste um vestido branco com uma gola de renda, um tecido azul que amarra o vestido em sua cintura e uma peruca. No entanto, os cachos de seu cabelo saem da peruca. O esposo está sentado olhando Marie-Anne e descansa seu braço sobre a mesa. Ele está vestido com uma roupa preta. Ambos estão vestidos de forma bem elegante, mas sem ostentação.

A mesa é coberta com uma toalha de veludo vermelho, papéis, canetas de pena, um barômetro, gasômetro e outros instrumentos científicos de vidro. Há também instrumentos científicos no chão, um deles é uma grande bolha de vidro. Na esquerda há uma cadeira com um pano preto e uma grande pasta verde. O fundo é uma parede azul de mármore com colunas.






O trabalho da pincelada é típico do que era trabalhado nas academias e demonstram a preocupação em se trabalhar a textura, o que é bem notado na pele dos personagens, no tecido transparente do vestido da esposa, na roupa do esposo, no veludo da toalha da mesa, no mármore da parede, nos objetos metálicos e principalmente na transparência e no brilho dos objetos de vidro e da água. Cada instrumento tem uma textura diferente.


O braço direito de Marie-Anne, a perna de Lavoisier e a iluminação do veludo vermelho fazem uma diagonal na metade inferior, fazendo com que exista uma quebra na estática do quadro. O quadro é harmônico e equilibrado. Suas cores dominantes são o vermelho do veludo, o preto, o branco do vestido e o azul do mármore. O vestido branco e a pele criam uma luminosidade nas feições de Marie-Anne. O veludo vermelho, o vestido e o brilho dos instrumentos também ajudam a iluminar o quadro. O trabalho expressa muita suavidade.


A pintura retrata duas pessoas cultas que demonstram intimidade e afeto um pelo outro, já que a esposa apoia seu braço de maneira bem natural e carinhosa sobre o ombro do marido. Os cabelos saindo da peruca e a delicadeza do trabalho também contribuem para a naturalidade da obra. Ambos foram retratados com mesma importância. Os instrumentos, a pasta verde e os papéis com anotações são símbolos para referir aos trabalhos do casal. O casal é a imagem da decência, pessoas ideais para governar a França.


De certa forma, essa igualdade entre os dois entra em contradição com a sociedade patriarcal, cristã e machista da época. De fato, Marie-Anne Lavoisier assumiu papel diferente do imposto para as mulheres da época. Mais um dos motivos desse quadro ser ainda mais foda.




Marie-Anne se reuniu com Antoine Dupin, o instrutor principal do processo contra os membros da Ferme Général, o grupo que matous eu pai e seu esposo. O objetivo do encontro era criar um julgamento à parte e menos severo para Lavoisier, ou, até mesmo, permitir a sua fuga da prisão. No entanto o encontro correu mal, na medida em que Marie-Anne se recusou a ser submissa. Refere-se inclusive que foi arrogante e agressiva, acusando Dupin de ser corrupto. assim sendo, ela acabou destruindo qualquer hipótese de libertar seu esposo. Anos mais tarde, Lavoisier e o pai de Marie-anne foram guilhotinados por conta de suas ligações com o Ferme Général. 





Suas ilustrações  ainda hoje são admiradas, e serviram de modelo para os ilustradores de desenhos científicos da época. Ela foi inovadora na apresentação das suas ilustrações, eram precisas e detalhadas, assim podendo ser utilizadas para recriar de forma fiel os materiais e apparatus de Lavoisier.As ilustrações mais famosas de Marie-Anne estão no livro de Lavoisier Traité élémentair de chimie.



Marie-Anne conheceu Benjamin Thompson, ou Conde Rumford.  Thompson reconhecia as capacidades intelectuais de Marie-Anne, assim como a sua vontade de independência. Marie-Anne convenceu o governo francês a permitir a residência de Thompson no país, apesar dele ser inglês. Em 1804 Marie-Anne e Thompson passaram a viver juntos. O casamento entre eles só se realizou a 24 de outubro de 1805, pois foi difícil obter os papéis necessários para comprovar que Thompson era viúvo. Thompson disse que ela era uma mulher bonita, independente e acima de tudo, a mulher mais inteligente e com intelecto incomum. O casamento foi um grande evento entre a aristocracia francesa.



Este casamento terminou, alguns anos mais tarde, devido a incompatibilidade de interesses. Ela era uma mulher muito ativa e avançada pro seu tempo. Também era famosa pelas festas que organizava. Thompson era mais introspectivo e arrogante. Ele falava quase exclusivamente da física, enquanto Marie-Anne gostava de abordar outros assuntos. É provável que outro motivo é que ele não a deixava participar de seus projetos científicos. A tensão teria aumentado quando algumas experiências de Thompson apontaram o calórico como não sendo um elemento, contrariando uma das teses de Lavoisier.Eles se divorciaram e Thompson acusou Marie-Anne de ser uma mulher obsessiva e ela fez de tudo para manter viva a figura de seu primeiro marido.


Marie Anne foi uma mulher de muita cultura e intelecto. Foi casada com dois químicos importantes, um deles que a deixava participar de suas atividades, as quais ela teve importante contribuição. Também foi aluna de desenho de David, um dos maiores artistas que já pisaram nesse planeta.


Aqui estão algumas ilustrações dela















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