quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Piquenique na montanha misteriosa - filme

Oi pessoal!



Se existe um filme nesse mundo em que eu considero uma verdadeira obra de arte é Pique nique na montanha misteriosa (Picnic at Hanging Rock). Uma das coisas que eu considero muito na vida é a beleza, aquilo que é belo. Algumas pessoas podem achar que isso seja fútil,  não importo eu taco o foda-se, pois ninguém que pensa assim deposita milzinho na minha conta.




É belo por quê? Por que uma obra de arte? Porque ele é a soma de muitos pontos positivos, expressivos e perturbadores. Além do mais a fotografia e imagem é linda. Sendo assim esses fatores fazem dele um filme único e inesquecível, além de fazer com que os nossos questionamentos martelem na nossa mente. 




O filme acontece na Austrália em 1900 em uma escola vitoriana só para meninas, uma espécie de internato para burguesas aprenderem boas maneiras e suas obrigações. Sendo assim, toda a rigidez da época em relação aos valores da alta sociedade, principalmente como uma mulher deveria zelar por sua honra. Logo é um ambiente que cobra que uma moça deve gostar de poesia, ser pura, romântica, culta e submissa. Todos esses fatores aparecem no ambiente escolar e na trama.





O filme se inicia na manhã do Dia de São Valentin, onde as lindas meninas se vestem com vestidos de cores claras, quase puxando para o branco. Um grupo delas aparecem apertando os espartilhos, uma a uma de fila apertando o espartilho da outra. Todas arrumam seus cabelos com a ajuda das amigas. Muitas recebem cartas de Dia de São Valentin e recitam versos de amor. Até que elas descem as escadas e vão em direção a porta principal da escola. A diretora, a senhora Appleyard aparece e dá início ao passeio a Hanging Rock. Nisso a diretora fala para as alunas honrarem o nome da escola e ao mesmo tempo a gente interpreta como: “seja uma boa moça”.




Essa cena inicial é doce e faz com que a gente compreenda todo o contexto vivido pelas alunas. É comum a gente notar nesses filmes de época que as moças se vestiam com cores claras assim como aniversariantes de 15 anos de até um tempo atrás. As cores claras seria uma espécie de representar a pureza, por isso noivas se casam de branco. Percebemos então toda uma atmosfera de pureza e repressão no ambiente feminino da escola. Também o espartilho, mesmo eu considerando uma peça que não devia ter saído do guarda roupa e que eu ache perfeito, foi considerado como um objeto de opressão pela forma perfeita da mulher. Portanto mais um ponto na trama para representar os valores morais da época e ao mesmo tempo o erotismo.




Ainda no início, uma moça loira, a Miranda (Anne-Louise Lambert) começa a ler em voz alta uma carta de São Valentin. Não sabemos ao certo se ela recebeu de um pretendente, ou se sua colega de quarto que também está no quarto. A colega de quarto Sara (Margaret Nelson) durante toda a trama Sara demonstra que ama Miranda. Provavelmente é apaixonada por ela. Até que Miranda vira e fala: “Você precisa aprender a amar outra pessoa além de mim Sara, não vou ficar aqui por muito tempo”.





Essa frase perturba o espectador durante todo o filme. A gente não sabe se o sumiço de Miranda e das outras garotas tem relação com isso. Também se ela estivesse apenas dando um fora na colega em função de um namorado e ela não pretende se relacionar com Sara. Ou apenas um simples comentário de quem um dia terá que partir e se preocupa com a amiga. O que importa é que suas palavras nos perseguem o tempo todo.

Devido a falta do pagamento da mensalidade a diretora não deixa Sara ir ao passeio. Então todas as meninas e duas professoras vão em direção a montanha. Uma delas também se veste com cor clara que nem as alunas. Já a outra usa uma roupa escura, é mais velha e com mais sabedoria. Nisso, as alunas fazem um piquenique no local, partindo bolos e comemorando o dia especial. Até que na hora do descanso, muitas alunas resolvem dormir, outra característica da vida das garotas burguesas da época: cochilar depois do almoço.



Enquanto isso, a sra. Appleyard pede para que Sara recite um poema, já que recitar versos era uma das lições da escola. Era de bom tom que toda moça soubesse poesia. No entanto a aluna disse que não havia decorado, mas que tinha criado outro e tinha mais versos que o poema exigido. Quando Sara começa a recitar a professora manda parar e exige que a aluna decore o outro poema, mais um pouco de opressão por parte da diretora.

Durante toda a trama a gente percebe que Sara era bem diferente das outras meninas. Queria fazer versos, ser diferente, ser apaixonada por uma garota, não sabia se portar como uma moça, ser homossexual? Ou será, ela descobriu o amor??? São muitas as nossas dúvidas em relação ao que acontece com ela. Com certeza é uma intensão de mostrar que há algo acontecendo com a personagem. 




Chega o momento em que coisas estranhas acontecem na montanha. Os cavalos relincham, os pássaros começam a fugir do nada, o relógio para de funcionar, um som se flauta. São coisas sobrenaturais que acontecem ao meio dia. Então Miranda e mais duas alunas resolvem subir a montanha.  A professora mais velha também sobre como se estivesse sentindo a necessidade de buscar algo ou explorar o lugar. Uma aluna gordinha segue suas colegas que vão em direção a algo que não sabemos. Mesmo com a colega lutando para que elas não fossem tão longe, as garotas continuam indo como se nada tivesse acontecendo.

É na montanha onde as três garotas passam a ignorar o mundo, sentir pena da gordinha e também de quem não tem propósito de vida. Dá para entender que Miranda também sente a mesma coisa e talvez até desprezo por Sara. Até que uma delas fala: “é surpreendente o número de pessoas sem um propósito. Desconhecidas a si mesmo. Tudo tem um começo e um fim. Na mesma hora e no mesmo lugar”. Da a entender que as outras duas compartilham da mesma visão. Assim as três alunas e a professora desaparecem na montanha.


Ao voltar da escola a professora da a triste notícia do desaparecimento das alunas e da professora. O que a diretora pediu no início do passeio não foi realizado e a escola passa a ser mal vista. Algums pais tiram suas filhas da escola e tudo começa a entrar em crise. Até que sabemos que Sara na verdade é órfã e seu tutor não está mais pagando a mensalidade, logoela é avisada sobre sua situação na escola. No entanto ela parece mais triste com o fato do sumiço de Miranda. Ela conta para a zeladora que Miranda disse que não voltaria mais. Aquelas palavras de Miranda continuam perturbando a nossa mente.  

Durante todo o filme uma atmosfera do adolescer e de se tornar uma mulher envolve os personagens. Há o início de uma descoberta sexual, não só por parte das alunas, mas também pelo garoto que fica encantado com as três meninas que sumiram. Além do mais, durante toda a trama Miranda é tratada como uma pessoa de beleza única. A frase de sua professora enquanto ela olha uma imagem da vênus de Botticceli “Agora eu sei. Eu sei que Miranda é um anjo de Botticceli”. Miranda é aquela menina que encanta a todos com sua beleza.  




Nisso que o garoto observa as meninas outro rapaz, seu empregado começa a falar coisas “grosseiras” a respeito do corpo delas. Até que o garoto fala que ele não devia falar coisas tão cruéis e recebe a resposta: “eu digo coisas cruéis, você só pensa nelas”. O garoto que também era da alta classe social tem uma educação de lord, mesmo assim há um despertar sexual nele. Tanto é que mesmo que a polícia dissesse que não tinha encontrado as alunas, ele foi atrás e acha uma delas. Outro ponto perturbador é que ele aparece paralisado com um pedaço do vestido de uma delas na mão.





A garota encontrada não morreu e recebeu todos os devidos cuidados médicos. A maior preocupação da sociedade e também da escola é saber ou não se ela ainda estava “intacta”. Porém essa não é a perturbação maior do espectador e também do médico que fala que daria tudo para saber o que aconteceu naquela montanha. Ao acordar a garota encontrada não se lembra nada do que aconteceu.


Sara recebe a última alerta da Diretora, mas o desaparecimento da amiga é mais doloroso que sua expulsão da escola. Ela conta para a zeladora que é órfã e quando criança no orfanato ela sonhava em trabalhar num circo e usar um vestido cheio de lantejoulas, mas seu cabelo foi raspado e sua cabeça tinha sido pintada com violeta de genciana, como uma espécie de reprimir os sonhos da garota. Ao mesmo tempo o empregado do garoto diz que tem uma irmã, mas que não sabia onde ela estava, fazendo com que chegamos a conclusão que Sara é sua irmã. No final do filme ela é encontrada morta assim como a profecia que as alunas que sumiram disseram.



Mais uma vez para lembrar dos valores da época há uma cena em que a diretora da escola comenta algo a respeito da professora que sumiu. Ela diz que não compreende porque a senhorita McCraw se deixou levar por uma aventura juvenil, logo a professora que ela considerava com um intelecto másculo, atribuindo o masculino aos conhecimentos e educação da professora. Mais uma vez o despertar sexual que bate na porta e agora podemos assimilar o desaparecimento das garotas com a data especial, o Dia de São Vatelin, dia dos namorados e dos amantes. A medida em que elas sobem a montanha peças de roupas são deixadas para trás e passam a andar descalças. Seria então algum tipo de crime sexual? Ou seria a montanha uma espécie de personagem que representa o desejo e o desaparecimento delas está relacionado com o rompimento com tabus da sexualidade feminina? Afinal, a professora que era sexualmente reprimida se deixou levar por uma aventura juvenil e desaparece na montanha que nem as alunas. 



A resposta não é revelada. Sabe-se que depois de alguns anos foi dito que o caso não era real e sim fruto de um romance de ficção relacionado à montanha que nativos diziam que aconteciam desaparecimentos no local sem nenhuma explicação. 

O filme é vendido por aí com cortes do original, inclusive o DVD que eu tenho não tem o final onde a sra. Appleyard resolve ir até a montanha para ver o que aconteceu. Até que ela encontra o espírito de Sara que tanto a assombra, fazendo com que ela caísse morta no chão. Vi esse final no youtube. 



Durante muitos momentos o som da flauta inquietante aparece e mesclarem de imagem das personagens condicionam o clima de suspense, beleza e inquietação. As cores usadas, os penteados das meninas, as vestimentas antigas de cores claras, espartilhos, a conotação sexual e a música formam uma atmosfera de beleza e erotismo.




Não sou nenhuma crítica de cinema e nem muito fã do cinema cult. Mas esse é meu parecer de um dos meus filmes favoritos. Também publicarei essa mesma postagem no meu outro blog que serve como um diário meu. 

2 comentários:

  1. Oi, Amanda!
    Tudo bem?
    Conheci o seu blog através da sua página no Facebook e tenho acompanhado as suas postagens. Gostei muito do seu trabalho, parabéns! Os seus desenhos são lindos!!
    Sou estudante de Belas Artes da UFRRJ e gostei bastante das suas dicas de materiais também! Vi que você usa para aquarela o papel Moulin du Roy da Canson, e fui procurar ele no site A Casa do Artista, mas, ele tem Grana Fina, rugoso ou satinada. Qual é o que você usa?
    Obrigada!
    Sucesso sempre!!

    Um beijo,

    Fernanda.

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  2. Oi, Amanda!
    Obrigada por me responder!!! :)
    Esse papel que vem em espiral é o Montval? (Esse aqui: http://www.companhiadopapel.com.br/loja/config/imagens_conteudo/produtos/imagensGRD/3148958071608_G1.jpg)

    Pois é, eu sei qual é esse papel da linha universitária, ele é muito ruim mesmo! Em todo desenho que eu faço ele não aguenta e "rasga" em alguma parte importante, e aí não tem como esconder aquelas "pelinhas" de papel rs Eu comprei ele quando comecei a ter aulas de aquarela, e eu acabei usando só ele mesmo, porque aqui aonde eu moro é muito ruim achar material de arte, ainda mais material bom kkk Mas, como é a técnica que eu mais uso, já estou sentindo necessidade de mudar de papel, conhecer outros materiais...

    Obrigada pelas dicas!! :)

    Beijos

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