sábado, 13 de agosto de 2011

Receita e história da tinta têmpera e tinta a óleo: transição da tinta têmpera para tinta a óleo

A postagem de hoje explica como fazer a tinta têmpera e a óleo, para isso, tenho que contar a história delas e da transição da têmpera para a óleo, ou seja é um tema que anda com a História da Arte.
Esse tema faz parte das aulas de Materiais em Arte 1 da UnB e também foi um trabalho que eu e um amigo meu (o Ramon) apresentamos em Fundamentos da Educação Artística.


Tinta Têmpera

A têmpera, que vem latim (temperare) significa misturar ou aglutinar, é a tinta mais antiga que temos. Foi usada na Antiguidade, Idade Média e na Renascença, nos murais das dinastias do Egito, Babilônia, Grécia, China e primeiras decorações da arte cristã.
Na maioria das vezes, era produzida pelos próprios artistas. Poucos fabricantes comercializavam as tintas para essa técnica. Na verdade, cada um tinha uma maneira de produzir.
Sua composição é basicamente: gema de ovo (sem película) + água + pigmento. 
Seu diluente e solvente é a água. Os aglutinantes podem ser: o soro de leite (têmpera caseína), gema de ovo sem película(têmpera ovo) e a clara de ovo batida em neve (têmpera albumina).

Características:

ela é resistente a ação do tempo;
sua secagem é rápida (o que não permite a mistura das cores no suporte);
seu efeito é brilhoso e transparente;
é solúvel em água;
mantém o registro das pinceladas;
não sofre rachaduras tardias;
depois de seca as cores mantêm-se muito próximas às do pigmento original;


Receita da Têmpera Ovo:

15 ml de gema de ovo sem a película (teoricamente a película evita o cheiro do ovo, mas quando eu fiz essa têmpera, tirei a película e continuou fedido);
9 gramas de pigmento em pó ou 3 a 4 ml de pigmento líquido;
7 ml de água;

A água e o pigmento deve ser adicionados aos poucos. Se preferir, pode acrescentar 15 ml de óleo para aumentar o tempo da secagem.


Receita da Têmpera Albumina:

15 ml de albumina da clara do ovo;
9 gramas de pigmento em pó ou 3 a 4 gotas de pigmento líquido;
7 ml de água;

A albumina é o soro resultante da clara em neve, então é preciso separar em um recipiente fechado a clara em neve, e aguarde a completa decantação do soro. Depois é só misturar aos poucos a água e o pigmento.


                               Cimabue, Crucifixo de São Domenino- 1268-1271  




       Piero della Francesa, O Batismo de Cristo- 1442




Duccio di Buoninsegna, A Virgem Sagrada e Cristo Menino com São Domenico e sta Áurea, têmpera s/madeira 


Tinta a óleo


 (Leonardo da Vinci)

E tinta a óleo é a técnica de cavalete mais importante, popular e mais estudada. Desenvolveu-se por mais de seis séculos na Europa.
Foi conseqüência das modificações na elaboração da tinta têmpera e surgiu por ETAPAS.
A mais antiga das pinturas a óleo conhecida foi elaborada na Noruega no século XII. Ela é anterior aos irmãos Hubert (1366-1426) e Jan Van Eyck (1390-1441). Muitos pensam que Jan Van Eyck inventou essa tinta, mas na verdade o que ele criou foi uma tinta com óleo de secagem mais rápida. É provável que ele e outros pintores holandeses do século XV tinham azeites com boas propriedades secantes. Também a terebentina já era um diluente.


                                     O Casal Arnolfini (óleo sobre madeira 1434)


O uso do óleo como aglutinante foi inicialmente mais difundido no norte da Europa que no sul. No século XV começou a transição gradual da têmpera para a tinta óleo. Muitos artistas usavam as duas técnicas em seus quadros, começavam com a têmpera e terminavam com a óleo.
Em 1475, Antonello da Messina levou o óleo para Veneza, e o pintor Giovanni Bellini alcançou todas as suas possibilidades e especificidades técnicas. Em Veneza, a técnica foi muito bem aceita e assim difundida pela Itália e pelo resto da Europa. A partir daí a riqueza das cores, o brilho e a estética renascentista se desenvolveram de maneira triunfante.


                                  Antonello da Messina- óleo sobre tela-1476-1478  



                                       Giovanni Bellini, óleo e têmpera 1501-1505 

Durante o século XVII, a prática de pintar quadros inteiramente com óleos aumentou e virou uma atividade rotineira. No mesmo século, houve um incremento da oferta na produção de tintas por profissionais, e até o século XVIII era possível comprar linhos preparados para pinturas e tintas a óleo guardadas em bolsas de couro. Também inventaram os pigmentos sintéticos, aumentando a paleta de cores. Em 1704, surgiu o azul da Prússia que substituiu o azurita e o azul ultramarino, que eram bem mais caros. Em 1750 surgiu o amarelo de Nápoles que substituiu a purpurina amarela. Em 1802 surgiu o azul de cobalto. Em 1828 o azul ultra marino foi produzido sinteticamente, ficando mais barato. No século XIX, as tintas passaram a ser comercializadas em tubos de estanho. Com isso, os artistas não precisavam perder tempo fabricando suas tintas.

Composição:







      

Pigmento + óleos vegetais (linhaça, papoula, nozes, soja, girassol, cânhamo, açafrão, tabaco, algodão e etc);

Solvente: terebentina, água ras e querosene (algumas pessoas não indicam);

Para secagem mais rápida: secante de cobalto;

Para maior fluidez (deixar a tinta mais rala) deve usar a terebentina e/ou óleo de linhaça;
Suporte: linho, madeira e algodão (com fundo de gesso, polímero acrílico ou gola e gelatina);








Os pigmentos mais adequados são: branco de titânio, branco de zinco, azul de ultramar, azul cobalto, azul cérulo, verde cobalto, terras verdes, verde oxido de cromo, amarelo de cádmio, amarelo ocre, terras de siena, amarelo de Nápoles, amarelo de marte, amarelo cobalto, amarelo hansa, vermelho ocre, vermelho indiano, vermelho de cádmio, vermelho de marte, preto marfim, preto mineral, preto de carvão vegetal, violeta de cobalto, violeta de manganês, violeta de marte, marrom de marte, siena queimada e sombra natural. Claro que podemos usar terra e outros tipos de pigmentos para produzir nossas próprias tintas.
O óleo de linhaça é o mais usado e é encontrado em papelarias e em casas de materiais de arte. É bem fácil de ser encontrado. Ele é extraído das sementes maduras da planta do linho. O óleo extraído pela prensagem a frio é de melhor qualidade para as tintas ao contrário do que é extraído pela prensagem a quente, realizada com a ajuda de vapor, que é o processo mais comum. O aquecimento do óleo de linhaça a temperaturas entre 272°C e 302°C, o tansforma em óleo polimerizado, alterando suas propriedades físicas mecânicas. O resultado é um óleo mais viscoso e parecido com mel.








Características:

Flexibilidade e elasticidade;

Liberdade de efeitos;

Pouca alteração das cores após a secagem;

Brilho;

Secagem lenta;

Grande variedade de tintas; 

Receita:

Aquecer o óleo de linhaça e acrescentar 1% do volume de cera de abelha derretida. Sobre um azulejo ou vidro, coloque o pigmento e acrescente o óleo aos poucos e ir amassando e misturando com uma espátula ou pilão de vidro ou cerâmica.
O processo de misturar é importante para uma boa tinta, quanto mais misturada e amassada, melhor é a tinta.


                                         (sempre achei a mesma coisa)


Óleo de papoula: não é tão antigo quanto o de linhaça e não teve a mesma popularidade entre os artistas. È mais claro que o de linhaça e tem tendência a amarelar menos. O tempo de secagem é mais lento e forma uma película mais fraca e tende a rachar. Pode ser misturado ao óleo de linhaça e ao de nozes.




Óleo de nozes: inferior ao de linhaça e superior ao de papoula. Seca quase tão rápido quanto o de linhaça, mas ele é mais caro. Com o tempo se torna rançoso e com odor forte. Pode ser misturado ao óleo de linhaça e ao de papoula.



Óleo de soja: é bem inferior ao de linhaça e precisa de agentes secantes. É comumente usado na indústria como substituto do óleo de linhaça. É utilizado como ingredientes de vernizes e esmaltes. Não amarela com o tempo.

Óleo de girassol: Possui propriedades equivalentes ao óleo de papoula, porém inferior a este. Na Europa, ele muitas vezes substitui o óleo de linhaça.

Óleo de cânhamo (cannabis - não é a maconha, kkkk): Possui propriedades equivalentes ao óleo de papoula, porém inferior a este. As propriedades secativas deste óleo já eram conhecidas na Antiguidade e também é muito usado na Europa como substituto do óleo de linhaça. 



Óleo de algodão: não é recomendado, pois seu uso reduz a durabilidade da tinta.

3 comentários:

  1. Oi Amanda! Estou apaixonada pelo seu trabalho!
    Não fique pra baixo quanto aos temas que te inspiram. O ser humano é movido à moda. Mas, lembre-se: mada vem, moda volta.
    Eu adoro pinturas em geral, por isso estou seguindo o seu blog. Você é muito talentosa. Siga em frente! (0)

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  2. Oi Lilian! Muito obrigada!

    Eu também gosto bastante do teu blog! Já conhecia ele antes de criar o meu! Eu adoro corsets!

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  3. Amanda prazer. Sou artista plástico gostei do seu blog. Hoje 30/11/2015 seu blog ainda está ativo. Abraços Aloisio sp sampa

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